CRÔNICA: Vamo Imbôlá

Postado por: Trombetas | Marcadores: | às 14:02

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Fernando Gentil
 
Carlos era um garoto que se achava normal, mas as vezes se achava estranho. Na verdade ele não achava nada, só achava que achava e nada mais do que isso. A vida dele sempre foi bem “turbulada”, apesar de ele não saber o significado dessa palavra, nem ter sequer um dia tido esta vontade. Carlos é uma “metamorfose ambulante”, mas não sabe o que é isso, nem quem é Raul Seixas e odeia música.

Carlos, na verdade, gosta de ler, pois, segundo ele, ler é bom, ele não sabe o porquê, mas só sabe que é bom, porque para ele é bom e isso basta. Porém, isso também foi hoje, porque ontem ele gostava de tirar foto e amanhã as pesquisas indicam que ele vai querer virar mergulhador de águas rasas.

Carlos tem uma vida agitada, embolada, descontrolada e outras coisas que terminam com ada. Até que em um dia de sua grande e diversa vida, Carlos decidiu que precisava de uma pessoa. Não importava sexo, idade, senso de humor ou se a beleza dela é natural, artificial, ou criada pela sua própria cabeça. Carlos achou esta pessoa, mas não me quis falar o nome, só me disse que era uma pessoa e que era para mim chamá-la assim.

Carlos pertencia ao seu amor durante as terças e quintas. Enquanto o amor de Carlos pertencia a ele as segundas, quartas e sextas. Sábados e domingos ninguém era de ninguém. Porém, a monotonia e a rotina da vida a dois foi cansando Carlos que decidiu imbôlá até no seu relacionamento. Tinha segunda que ele pertencia ao outro, tinha terça que ninguém era de ninguém, tinha quarta que todo mundo era de todo mundo, tinha quinta que Carlos era só de Carlos, tinha sexta que Carlos era de ninguém e tinha final de semana que ele descansava. Mas as coisas não eram tão certas assim, era sábado no lugar da quarta, terça no lugar da quinta, segunda no lugar da sexta e, na verdade, Carlos nem sabia o que era segunda, terça, quarta, quinta... Ele descobria e esquecia as coisas em questão de horas, minutos, segundos, esqueceu.

Carlos voltou a sua vida agitada e animada, porém a pessoa que ele dizia que “amava” - mas na verdade este fato só se consolidava quando Carlos queria – pensou, achou, viu e concluiu que Carlos não a amava mais e que o que ele queria mesmo era curtir com a sua cara.

Carlos, agora sozinho, ficou triste por um tempo, algumas horas, mas depois voltou a imbôlar de vez. Carlos não tem jeito, não sabe viver na rotina, não sabe ter uma pessoa só, não sabe ter uma vida só, não sabe ter uma roupa só, não sabe comer uma coisa só, não sabe beber uma coisa só. Enfim, Carlos só quer viver sem pensar em futuro ou passado, Carlos não é adição, é multiplicação e assim vai ser até o dia que ele não existir mais, e olha que ele nem acredita nisso, na verdade, ele não acredita em nada, se bem que...

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