Quem dera tudo fosse apenas Jazz...

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 José Pedro Bezerra

Nesse ano de 2010, Ouro Preto foi palco da 9ª edição do “Tudo é Jazz”, que aconteceu no Centro de Convenções. Um Festival que conta com músicos de altíssimo nível destinado às pessoas que gostam de ouvir música de excelente qualidade. Mas, as questões que abordarei nas próximas linhas mostram a opinião de um estudante de jornalismo, que não é um sabe tudo (aliás, muito longe disso), mas mostrará os pontos positivos e negativos desse grandioso evento.

O primeiro ponto que ressaltarei é a excelente escolha de músicos, ótimos não só profissionalmente, mas também pelo “show” de carisma dos artistas. Falo pela primeira noite do evento, onde pudemos receber a atenção de Linda OH e Avishai Cohen, dois músicos renomados internacionalmente.
Músicos como Eldar Djangirov, Linda OH e Joshua Redman fizeram o público sentir a música em suas expressões e gestos. Ainda na noite de quinta-feira, passaram pelo palco do Festival os músicos Gilvan de Oliveira e Freddy Cole, porém não foi possível presenciar tais apresentações.

Um dos problemas que não permitiram assistir ao show do renomado cantor e pianista de jazz Freddy Cole foi a necessidade de retornar para Mariana, pois os ônibus correm apenas até a meia noite, mesma hora em que o show de Cole iniciaria. A falta de infra-estrutura por parte da Prefeitura de Ouro Preto em casos simples, como linhas de ônibus para atender às classes menos favorecidas a participarem do Festival, já é um problema. Lembrando que para outro evento grandioso no cenário de Ouro Preto (Festival de Inverno) são criadas linhas especiais.

Mas é aqui que, creio, mora o maior problema. Quem tem grana o suficiente para pagar 230 reais POR DIA para prestigiar o evento deve ter um carro, não é mesmo? E posso estar redondamente enganado, Senhor Prefeito Ângelo Oswaldo, mas não acredito que esse valor, tal como o senhor nos disse, “não é um valor tão alto”. É bom lembrá-lo que o salário mínimo é 510 reais.

O que mais intriga é o prefeito dizer em entrevista que os patrocínios deste ano não ajudaram, por se tratar de um ano eleitoral e blábláblá, e que no ano passado também não ajudaram por estarmos em um ano de crise. Ora, posso mais uma vez estar errado, mas ano passado o evento teve, quase em sua totalidade, entrada franca.

Concordo com o Senhor também que esse evento faz a economia da cidade girar, faz o vendedor da feirinha de pedra sabão e dos plantadores de couve da cidade vender mais para turistas. Mas alguém foi lá perguntar se, além de trabalhar, eles queriam curtir o evento?

Outro problema que me mostrou como é um pouquinho da vida de um jornalista foi a falta de interesse da assessoria de imprensa do Festival em nos tratar como jornalistas. Sim, estamos aprendendo, mas estávamos lá para aprender trabalhando, atuando. Não somos mulas que precisam de “viseira” para não olharmos para outros lados. E nem somos tolos e irresponsáveis a ponto de prejudicarmos os artistas. Fizemos o que queríamos e poderíamos fazer.

Quando fomos nos credenciar para podermos exercer nosso ofício de forma mais livre (mesmo com todos os limites estabelecidos pela produção), por volta das 14h30, a assessoria de imprensa oficial do Festival nem sabia ainda que nós iríamos ser credenciados, sendo que o professor que nos orientou durante todo o processo de pré-cobertura manteve conversas com a realizadora do festival por bastante tempo. Tudo isso pode ser comprovado por e-mail.

Pedimos para sermos autorizados a entrar no show. Nem era necessária a entrada de todos, mas apenas alguns para que pudéssemos cobrir todo o evento. Fomos negados veementemente pela assessora de imprensa e, devido ao alto valor do evento, tivemos que “dar os nossos pulos” para conseguirmos acesso ao Teatro de Ouro Preto, feitos de forma totalmente legal.

E mais, conseguimos, independente de qualquer ajuda, marcar duas entrevistas com dois dos artistas que se apresentaram no dia. Porém, fomos proibidos de realizá-las, pois a PRODUTORA disse que eles estavam cansados. Concordo totalmente. Deveriam mesmo estar exaustos. Mas quem marcou a entrevista foram os próprios artistas, a nosso pedido, é claro. Eles disseram que conversariam sem problemas.

Um dos artistas que iria ser entrevistado reconheceu um aluno, e isso já foi motivo para sermos crucificados. Estávamos indo embora, desolados por não podermos fazer as entrevistas que pensávamos que faríamos e, por coincidência, um dos possíveis entrevistados cumprimentou-nos e começou a conversar com dois de nós. Por esse motivo a produtora, com o perdão da palavra, ensandecida dizendo que nós estávamos fazendo tudo errado, que ela já havia nos dito que não era para fazermos assim, que tudo estava acabado (como se pudesse nos proibir de realizar a cobertura).

Levou o músico embora e ficou “descendo a lenha” em quatro estudantes que erraram por estar na saída do teatro, indo embora. Indignada por não saber como havíamos entrado, nos disse que se quiséssemos entrar no evento era só pedir para eles que arrumariam uma forma de entrarmos. Porém mais cedo a história foi outra, tal como vocês devem se lembrar.

Mas ainda existiram alguns eventos que foram abertos ao público. A programação do Jazz paralelo mostrou que não era preciso gastar uma boa grana para presenciar uma ótima música. A programação do site oficial mostrava onde isso aconteceria. Você teria que procurar com um pouquinho de paciência, pois, obviamente está em segundo (para não dizer terceiro, quarto, quinto) plano. Mas, se você tivesse 230 reais para gastar por noite, sem dúvida seria uma excelente pedida.

“O Velho e o Mar: humildade e persistência na batalha entre peixe e pescador”

Postado por: Trombetas | Marcadores: , | às 21:13

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Olívia Mussato

Cuba. O Mar do Caribe. Um velho pescador azarento, mas persistente. Um garoto amável e também persistente. A humildade e a simplicidade da vida se casando em pleno alto mar. Estes são os elementos principais do romance com narrativa jornalística do escritor americano, Ernest Hemingway.

Terra Firme
Santiago era um pescador velho e magro. Seus braços e rosto tinham manchas escuras produzidas pelos raios de sol e suas mãos eram marcadas de cicatrizes deixadas pelas linhas de pesca que já lhe haviam trazido peixes enormes. Seu corpo era velho e marcado, mas seus olhos não. Seus olhos azuis, da cor do mar, transmitiam a vivacidade e alegria que existiam em sua alma.

A simples cabana em que vivia era construída de guano, uma madeira resistente das palmeiras reais. A mobília era formada apenas por uma cama e uma mesa, e um dos cantos da cabana era reservado para se cozinhar a carvão. Nas paredes havia imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem de Cobre, consideradas relíquias da mulher já falecida. Havia também uma fotografia da esposa, mas Santiago a havia retirado, pois se sentia muito só ao observá-la.

O pescador tinha o hábito de ler jornais, nem sempre novos, e sua atenção se voltava para as notícias de beisebol. Santiago acompanhava a Liga Americana de perto e era fã dos Yakees, apostando no grande jogador DiMaggio.

O velho era solitário. Manolin era seu único companheiro. Porém, os oitenta e quatro dias sem pescar além de lhe renderem o título de salao - em espanhol, azarento da pior espécie, ainda serviram para que os pais de Manolin, o garoto que lhe acompanhava em sua pesca diária, afastassem-no do velho pescador.

Manolin era uma boa companhia para Santiago. Era amável, atencioso e cuidava do velho, levando comida e ajudando-o a carregar os rolos de linha, o gancho, o arpão e a vela do mastro quando o pescador regressava de mais uma pesca sem sucesso. A vida humilde e pobre de Santiago despertava caridade e ternura no garoto, e os dois mantinham uma relação de afeto e paternalismo. Mesmo com a maré de azar que assolava Santiago, o garoto não o abandonara e considerava Santiago o melhor pescador, forte o bastante para encarar qualquer peixe.

Em alto mar
Santiago afirmava que o mar era belo e generoso e, em setembro, no mês dos grandes peixes, decidiu enfrentá-lo, confiando que voltaria com um bom peixe para a Esplanada.

Como de costume, o menino também ajudou Santiago a se preparar para “o grande dia”: ainda de madrugada, levou o velho para tomar café e trouxe as iscas e as sardinhas que estavam no armazém frigorífico para a pescaria. Despediram-se e o velho pescador partiu para o mar em busca do grande peixe da sua vida.

Santiago decidiu ir mais longe do que de costume e se afastou da costa, remando suavemente na escuridão. Quando amanheceu, percebeu que estava mais longe do que esperava, mas estava preparado com seus rolos de linha, iscas, varas de pesca, garrafa de água, com sua esperança e a vontade de vencer a si próprio.

Começava aí o embate entre O Velho e o Mar.

O pescador é surpreendido por um peixe que fisga a isca, sentindo-se feliz por saber que ainda tem sorte e pode vencer. Mas com o passar do tempo, Santiago percebe que a presa é grande e pesada, e que pescá-la seria um desafio. Este desafio lhe custaria a vida e desistir era sinônimo de morte.

Assim, a batalha entre o velho e o peixe instiga o leitor na medida em que é travada. O cansaço, a fome, a sede, os ferimentos nas mãos e nas costas causados pelas linhas de pesca e as dores no corpo de Santiago são narrados de forma sinestésica e a imagem do pescador exausto, lutando contra sua própria força de desistir aparece clara ao leitor.

A solidão em alto mar faz com que o pescador reflita sobre sua própria existência, concluindo que não basta que tudo seja feito de maneira correta, é preciso, além de tudo, ter sorte. Santiago surpreende-se ao conversar sozinho, ao sentir saudade de seu companheiro Manolin e, como sempre, se recorda dos jogos de beisebol e da Liga Americana.

Santiago consegue fisgar o peixe medindo cerca de cinco metros, mas não consegue trazê-lo até a costa, pois, no percurso, os tubarões arrancam toda a carne do animal pescado. O velho pescador traz para a Esplanada somente a carcaça do peixe, sem carne alguma e chega derrotado, considerando que, além de devorarem a vitória de um pescador, os tubarões também mataram o próprio homem.

Além do Mar
A História de Santiago rendeu ao autor o Prêmio Pulitzer e o Nobel de Literatura, em 1954. O livro é envolvente, instigante e permite a reflexão sobre os sonhos e desilusões do ser humano.

As frases curtas seguem o ritmo das ondas do mar que se quebram no pequeno barco de Santiago e representam a força da união entre jornalismo e literatura de um dos escritores que serviu de influência para o new jornalism.

A narrativa tem cheiro de peixe fresco e maresia, e Ernest Hemingway nos faz enxergar os peixes e o mar.

Jornalista desde os 18 anos, o autor produz uma narrativa clara e concisa, abusando do estilo jornalístico. O resultado é um texto descritivo, curto (apenas 126 páginas), direto e que segue uma linha cronológica. Mesmo que recheado de pensamentos e inferências ao passado de Santiago, em nenhum momento a noção do tempo atual da história é perdida. Tal característica possui aspectos positivos e negativos.

De um lado, o leitor fica preso aos fatos que são desenrolados durante a narrativa: se atém a cada remada, a cada onda que bate no barco de Santiago, a cada puxão que o peixe dá na linha de pesca.
Mas de outro lado, o leitor também fica preso. Fica preso ao presente da vida de Santiago e não consegue se desvencilhar do barco, do mar, da luta do pescador contra o peixe.

Por algumas das lembranças que o velho Santiago apresenta - como as aventuras da viagem à África e suas recordações dos leões, das extensas praias douradas e das areias brancas -, nota-se que é possível explorar mais o passado do personagem central do livro. O que Santiago viveu em sua infância, juventude e na vida adulta foi determinante na construção da personalidade que é mostrada ao leitor. O acréscimo destes aspectos na narrativa traria mais emoção e aproximaria, ainda mais, o leitor da saga do humilde pescador cubano.

Livro: O Velho e o Mar
Autor: Ernest Hemingway
Ano de publicação: 1952
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 126
Valor: R$20,80

Crônica

Postado por: Trombetas | Marcadores: | às 21:08

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Olívia Mussato

Todo jornalista, quando se depara com um grande evento, fica deslumbrado. Não no sentido ingênuo, o da expressão boquiaberta, mas o do entusiasmo...
Sua mente começa a bolar planos mirabolantes, pautas desejosas, caminhos tortuosos, mas que culminarão na satisfação suprema do seu ego: a conclusão da grande reportagem.
É sangue, suor, energia e prazer. Tudo com muito prazer, afinal, existe algum jornalista desapaixonado pelo que faz?
Ah sim... Aquele grande evento de que falávamos... Imagine o Festival de Jazz de Ouro Preto. Nunca foi?
O Festival é quase uma salada: muita diversidade, turistas de todos os cantos do mundo, músicos de várias nacionalidades... Você só vai estranhar que no meio da quitanda não há tanta gente da cidade. Por quê?
Biscoito de nata ao som de jazz... É... Não sei se fica bom. Doce? Azedo? Melhor é cada um experimentar e sentir o tempero na própria boca. O prato pode ser acompanhado de...
Entusiasmo. Falávamos de entusiasmo a pouco... Imagine então a gana de um estudante de jornalismo. São poucos que conseguem aguentar.
As fontes parecem inesgotáveis, as possibilidades infinitas e as barreiras invisíveis. Italo Calvino já trazia Marco Polo e suas interpretações próprias de cada viagem, de cada cidade visitada. Da mesma maneira, enxergamos nossas próprias cidades, com suas próprias montanhas e paraísos.
Gritamos, xingamos e, no final, fazemos a festa. É verdade. Não como gatinhos domesticados que adoraram a ração nova. Não comemos ração.
Mas porque não nos faltam vontade e bússolas que indicam nortes invisíveis a serem criados. Bússolas próprias, mapas construídos e improvisados. Como o jazz... A linda música nascida em Nova Orleans, pelas vozes e braços do povo norte-americano.

Um passeio com Chico

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , | às 21:04

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Uma conversa animada com o músico Chico Amaral

Fernando Gentil, Mayara Gouvea e Olívia Mussato

O restaurante Bené da Flauta foi palco da programação do Jazz Paralelo em Ouro Preto, juntamente com mais 19 restaurantes da cidade. Nem todos os estabelecimentos trouxeram o verdadeiro jazz para as apresentações musicais, nem inovaram nos pratos, mas o almoço de sábado no Bené da Flauta...

Na porta do restaurante, Chico conversava com dois amigos. Com chapéu panamá, camisa listrada e calça clara, a imagem do típico malandro vinha à mente, ligando o artista ao universo do samba. No entanto, Chico Amaral, que gosta tanto de misturar estilos musicais, naquele dia respirava o jazz. E só o jazz.

Começamos o papo antes de sua apresentação e caminhamos até a porta de sua casa numa deliciosa prosa a la Minas Gerais.

Há oito anos, Chico e Eduardo Tropia deram o pontapé inicial no Circuito do Jazz Paralelo. Já na segunda edição do Festival Tudo é Jazz era visível a necessidade de contemplar todo o público e envolver os restaurantes e bares da cidade barroca em torno do ambiente jazzístico. Assim, o Jazz Paralelo foi criado.

O músico comentou sobre o Festival de Jazz e suas mudanças. Apesar de ter aprovado e preferido o ambiente do Teatro Ouro Preto para as apresentações, ele reconheceu que o evento se tornou mais elitizado. Fato que, de certa forma, dá mais importância ainda ao Jazz Paralelo, segundo Chico.

Ainda sobre a elitização do Festival, Chico Amaral criticou o alto preço dos ingressos – o último lote chegou a 230 reais – e a ineficiência da divulgação. Mas ele não culpa a organização do evento, e afirma que a equipe se preocupa em oferecer atrações gratuitas para a cidade, democratizando o Tudo é Jazz. Para Chico, o maior problema foi a falta de patrocínio. As empresas que apoiam eventos culturais têm retorno financeiro, a divulgação de seu nome e ainda, a população reconhece os investimentos em cultura. “Cultura gera negócio no mundo capitalista. Não é a minha porque eu sou comunista”, enfatizou o músico.

Depois de uma paradinha em sua casa, a conversa sobre o Festival tomou rumos mais intimistas. Para Chico, o Festival de Jazz é uma oportunidade única para os músicos terem contato uns com os outros e agregarem experiências e conhecimentos. O ápice foi a parceria com Maria Schneider no Tudo é Jazz 2007. “Tocar com Maria Schneider foi a experiência musical mais importante da minha vida”, declarou Chico Amaral.

Deixamos o Festival um pouco de lado e focamos em sua carreira. Entre as novidades para quem acompanha seu trabalho, está a proposta de criação de uma cooperativa de músicos. A ideia é a divisão igualitária dos recursos financeiros e culturais entre os artistas.

Chico Amaral também contou sobre algumas de suas parcerias. Uma delas foi no último álbum de Erasmo Carlos, “Rock’n’roll”, em que Chico contribuiu como letrista em duas músicas, “Noite Perfeita” e “A Guitarra é Uma Mulher”.

Chico também contou de sua parceria com músicos mineiros, como Samuel Rosa, Kadu Vianna, Marina Machado, Milton Nascimento, entre outros. Segundo Amaral, trabalhar com estes artistas o ajudou muito em fazer música de qualidade e diversificada.

Da MPB ao Rock, passando pela música clássica, o jazz e outros estilos; Chico conta que é apaixonado por música de boa qualidade. “O que me faz viver no dia a dia é tocar e estudar”, comentou. Antes de subir ao palco do restaurante, Chico Amaral deixou um recado ao citar uma música da banda Led Zeppelin: “Música é o meu equilíbrio”.

Uma pessoa animada, extrovertida e consciente: esse é o Chico Amaral que conhecemos no Tudo é Jazz 2010.

Deadline

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , , , , | às 16:16

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Simião Castro

Década de 50. Estados Unidos. Columbia Broadcasting System (CBS), uma das redes de televisão mais influentes do país. E isso, quando a televisão apenas começava a se firmar como veículo de massa nos EUA.

Nesse ambiente, o jornalista Edward R. Murrow (David Strathairn) resolve mostrar para a nação atividades ilícitas do senador Joseph McCarthy durante suas investigações anticomunistas. Murrow denuncia, em seu programa noturno semanal, que o senador acusava e mandava prender supostos comunistas sem provas, em nome da liberdade do país.

George Clooney (diretor e intérprete de Fred Friendly) embarca na história real de Murow, chamado de Ed pelos amigos, e a transforma no longa “Boa Noite e Boa Sorte”, (Good Night and Good Luck) lançado em 2005, indicado a 6 Oscar em 2006.

Apesar de não levar nenhuma das estatuetas, o filme faz jus a todas as indicações e a ao menos mais uma: trilha sonora. O jazz ajuda a transportar o expectador para a época, e ainda serve como acabamento para os planos cênicos, ora ousados, ora conservadores.

O diretor se utiliza de muitos planos de meio conjunto (mais de uma personagem e visão do cenário), bem como de meios primeiros planos (enquadramento da cintura para cima da personagem). Isso, mais os close ups, faz toda a diferença. A impressão é que se está sempre muito próximo dos atores. Como se o expectador fosse parte do filme, estivesse dentro dele.

Mas não são apenas esses elementos que levam o público para dentro da tela. Clooney mostra a que veio já na primeira cena, quando o Jazz começa a tocar e a imagem se abre em preto e branco. Não deixa de ser um susto a princípio. Um filme em plenos anos 2000 em preto e branco? Mas o efeito que causa é primoroso. O ambiente, mais a trilha sonora, são como uma máquina do tempo. Quando você se dá conta, está nos anos 50 também.

Outra grande solução encontrada pelo diretor foi utilizar imagens do arquivo da época em passagens importantes da trama. Além desse recurso certamente ter poupado gastos com locações, cenários e contratação de atores, ele contribuiu para a construção da narrativa.

Contudo, a técnica seria pouco para amparar um filme como este. É necessário história. Será então possível que o Macartismo seja suficiente para proporcionar tal teia? Não. Mas a forma em que ele foi tratado, essa sim, é o segredo. 

Abordar o tema de dentro da redação da televisão, narrar os acontecimentos pelas palavras de um personagem real, como Edward R. Murrow, dá verossimilhança à história. Mas poderia também ter destruído o ambiente preestabelecido. A redação pode ser um lugar hostil, onde o tempo é inimigo de todos, e onde a correria do trabalho pode tornar as pessoas ranzinzas e ríspidas.


O que ameniza esse aspecto é explorar o conteúdo humano de Murrow. Aquele que se propôs a ir contra um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos, com denúncias incisivas e diretas, sem receios e com um rigor ímpar, é o mesmo homem que parece carregar o mundo nos ombros. O mesmo que luta contra os conflitos de sua profissão diariamente. E o mesmo que começa a se perguntar se a televisão estaria, já àquela época, cumprindo com seu dever frente à sociedade.

Essa discussão é apresentada logo nos primeiros minutos do filme, e nunca foi tão atual. Murrow discursa em um tributo a ele e parece falar para o futuro. Apesar do preto e branco, a máquina do tempo foi ligada novamente, e a plateia não é mais a formada pelos convidados da festa, e sim pelos espectadores do filme que se identificam com o que está sendo dito na tela. A reação de ambos os públicos provavelmente não seria diferente naquela situação. Choque.

Os rumos que a TV toma na época, tornando-se cada vez mais um veículo de propagação de entretenimento, e cada vez menos de informação útil à sociedade, preocupavam o jornalista e continuam em pauta ainda hoje, mais de meio século depois. Enfim, um filme com cara de antigo, mas que de velho não tem nada. 

Com isso, o que resta a dizer é: Boa noite... E boa sorte!


Circuito Paralelo traz artistas locais e mostra que “música boa não precisa ser música cara”

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , , | às 12:17

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Thiago Guimarães

O Circuito Paralelo do Festival de Jazz oferece nos bares da cidade shows intimistas e parte gastronômica diversa, movimentando a cidade nesses dias de festival. “Ouro Preto não é só uma cidade cenográfica, mas também promove eventos que estão ligados ao circuito cultural mundial,” conta a advogada Lúcia Mara que chegou ontem à cidade para curtir o festival. Ressalta ainda que os preços estão um pouco acima da média, mas garante que vai aproveitar o circuito paralelo e que está ansiosa para conhecer os bares e a gastronomia local.

O Sótão, localizado na Rua Direita, contou com a presença de Lucas Mathias e o grupo Cor de Fubá. O repertório do músico carioca engloba músicas de Tom Jobim cantadas em português e francês. Lucas disse estar feliz em poder participar do circuito do festival, mas critica o fato dos preços abusivos dos shows principais. “O festival deste ano tem um caráter elitista e o público ao qual se destina não é compatível com o da população em geral ouropretana. Faltam incentivos tanto do setor privado como do público para tornar mais democrático o acesso aos shows, afinal o cunho do festival é divulgar o jazz e suas vertentes para o povo e não promover a perpetuação do caráter restrito, disse.”

Sucessos como Garota de Ipanema, Ela é carioca e Ne me quitte pas embalaram a noite do Sótão. Lucas afirma “Descobri há pouco tempo o prazer de fazer versões. Em todas as canções deste show procurei seguir com fidelidade a tônica e a temática de Tom e de seus parceiros. Para mim, poder cantar a música que ficou famosa na voz de Edith Piaff é uma honra. Fazer música é se alimentar de inspirações e dar um tom pessoal ao trabalho”.

O grupo Cor de Fubá, ganhador do prêmio pelo júri popular, do primeiro festival “1 minuto em cena” com a composição “PARANANDÁ”, arranjada para pífanos e percussão corporal, tem em seu repertório composições próprias e diz receber influências do jazz internacional, do Candomblé e da música instrumental brasileira. “O jazz e a música instrumental tem suas bases no improviso e nada melhor que mesclar elementos culturais para compor canções.” Ao som do Pífano, sax, violão e bateria a apresentação foi marcada por vários momentos de interação com o público. O ponto alto foi quando o grupo tocou uma composição do músico Jimi Hendrix, que segundo eles é uma das inspirações de seus trabalhos. A história de banda tem suas origens na cidade de Ouro Preto, quando cinco amigos estudantes decidiram montar um projeto que envolvesse músicas instrumentais com raízes brasileiras.

Entre as próximas atrações do bar estão Celso Alves - com participação de Beto Lopes e Eugênio Aramuni - no sábado, e Jamir Dias Trio com o show Brazilian Jazz no domingo. O prato da casa é Panqueca de queijo minas de búfala, com rúcula e tomates secos.

Circuito Paralelo Tudo é Jazz

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , , , , , , | às 19:52

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A prova que apesar de Tudo ser Jazz, o Jazz não é para todos

Pedro Fernandes

O Circuito Paralelo do Festival Tudo é Jazz, um roteiro com bares e restaurantes da cidade associados à organização do festival, seria, supostamente, uma alternativa barata para a população da cidade e região de acompanharem o festival sem pagar seus preços absurdos de ingressos dos show’s. Na prática, porém,  não é bem isso que se vê.

Acontece nesses bares uma segregação muito mais cultural que financeira. O acesso, apesar de liberado, é cheio de requintes que não condizem com a realidade geral da cidade. Uma saída alternativa seria acompanhar a programação gratuita do festival, como Luciano e Fátima, um casal ouropretano fizeram nesta sexta, no Largo do Rosário. 

Ambos acompanhavam o show do Camarra Trio, realizado às 19h, mas o que levou o casal até lá foi a pura sorte do acaso, já que esses eventos gratuitos não são sequer mencionados no site do Festival. Eles dizem que essa foi sua primeira participação no Festival desse ano, mas em anos anteriores acompanharam toda a programação, então gratuita. Os dois afirmam ainda que o evento (o show que assitiam) está mais simples que no ano passado, mas que a qualidade se mantém.

A divulgação do Circuito Gastronômico se baseia essencialmente em alguns panfletos espalhados pela cidade, convidando aos que acompanham o evento a fazer um roteiro de restaurantes (aparentemente patrocinadores). No entanto, em alguns casos, nem sequer existem pratos relacionados diretamente ao Jazz e ao Festival. E, mais uma vez, o site oficial do Festival não disponibiliza informações a respeito.

O que encontramos nesse Circuito Paralelo é basicamente o que acontece no “O Passo – Pizza Jazz”. Uma programação especial dedicada ao Festival, que não foge necessariamente da rotina do restaurante de acordo com o sócio-proprietário do restaurante, Léo Tropia. “O Festival trouxe para o bar um movimento diário maior do que temos normalmente, mas nossa rotina noturna dos fins de semana já era de ter a casa cheia.” Ao comentar sobre o Circuito Paralelo do Festival, Léo diz que “é um bom complemento do Festival. Ele possibilita à cidade respirar mais ao fundo o Jazz”. Na noite de Sexta-Feira realizava-se no bar o show do grupo Benedito Blues, que realmente mantém a qualidade do Festival (até agora, sem dúvida, impecável).

O Circuito Paralelo realmente anda lado a lado com o Tudo é Jazz, mas se apresenta apenas como alternativa àqueles que já acompanham o Festival, não aos que não têm condições de assistir aos shows pagos. 

Enquanto isso a “caixinha de surpresas”, que são os eventos gratuitos, se definem na seguinte frase retirada do site oficial: “Muitas outras atrações acontecerão durante os dias do festival na Cidade Patrimônio da Humanidade, Ouro Preto. As informações serão colocadas no site a medida que forem confirmadas”. 

Pena que, como no caso da apresentação do Camarra Trio, as informações NÃO estão sendo colocadas no site à medida que são confirmadas. Com isso a população está tendo que descobrir essa programação “ao acaso” como disseram Luciano e Fátima.

Noite de abertura do Tudo é Jazz é marcada por shows restritos e traz artistas irreverentes do Jazz Contemporâneo

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , , , , | às 19:08

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Thiago Guimarães

A noite de abertura da 9ª edição do Festival Tudo é Jazz de Ouro Preto teve como atrações os músicos Gilvan de Oliveira, Eldan Djangirvo, Linda Oh Trio e o Saxofonista Joshua Redman. Contou ainda com a presença do prefeito de Ouro Preto, Ângelo Osvaldo e do reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), João Luis Martins.

Redman, que já mostrou seu trabalho através do Joshua Redman Elastic Band, filho do saxofonista de jazz Dewey Redman e Shedrof René, apresentou-se ao lado do pianista Eldar Djangirov. Sua performance foi marcada por vários momentos de irreverência sendo ovacionado com empolgação pelo público ao longo do show. 

Linda Oh, ao lado do integrante do 3 Cohens Sextet, Avishai Cohen, demonstrou uma presença de palco marcante e expressiva. Através de movimentos específicos pôde-se notar a presença dos elementos de seu projeto Concert in the Dark, que cria envolventes efeitos surround.

O reitor da Ufop, João Luis Martins, disse que este ano o visual do evento está mais com a cara da cidade, identificando seu caráter histórico e patrimonial. Quanto à popularidade do evento, em termos de acesso, o reitor afirma: “O Jazz realmente tem seu público específico e o espaço é restrito, por isso os ingressos são mais caros, mas o que funcionou muito bem no ano passado foi o circuito de Jazz Paralelo gratuito que integrou a população em geral, que não pode ficar de fora.”

O prefeito Ângelo Osvaldo disse que o Festival traz um retorno econômico significativo para a cidade, e a população se beneficia do atrativo turístico para a venda de produtos manufaturados, além da mão de obra local contratada para a infra-estrutura do evento. Quanto ao caráter restritivo dos shows, o prefeito afirma não ser um fator de exclusão, e evidencia que eventos desse porte são necessários para captação de recursos destinados, inclusive, para a promoção de eventos gratuitos.

Segundo Ângelo, “não se deve enquadrar Ouro Preto como uma cidade de interior sem destaque no cenário cultural. A prefeitura promove cerca de 450 eventos ao longo do ano. Para tal, os eventos pagos devem primar pela qualidade, pois se não houver investimentos do setor privado e um retorno significativo, as políticas de inclusão tornam-se sem efeito e o público dos shows populares perde com isso”. O prefeito ainda destaca que Ouro Preto é uma cidade inserida na rota dos eventos culturais de grande importância internacional.

Este ano o festival homenageia Louis Armstrong, cantor e trompetista nascido em Nova Orleans. Louis teve infância difícil e foi apresentado ao cenário musical em uma banda de escola. Na adolescência se destacou como trompetista e seguiu carreira no mundo musical. Em Chicago gravou algumas de suas músicas mais famosas com a Hot Five e Hot Seven bands. Alcançou sua popularidade também devido às aparições em filmes após a Segunda Guerra Mundial. O músico se apresentou pela Europa, África e Ásia em turnê patrocinada pelo Departamento de Estado dos EUA e foi ovacionado pelo público até sua morte, em 1971. Hoje é referência para os músicos de Jazz em termos de improvisação.

O festival acontece até domingo e mescla workshops, exposições fotográficas, circuito gastronômico e shows. O preço é salgado, mas há quem diga que é acessível, resta saber a quem. Enquanto isso, o jeito é descobrir como usufruir das maravilhas do mundo do Jazz, afinal, nem tudo é Jazz quando se trata de acesso.

Exposição fotográfica retrata paisagens mediterrâneas

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , , , , , | às 18:16

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Maria Aparecida Pinto

A exposição fotográfica “Olhar Mediterrâneo” de Marcelo Carvalho se encontra na Galeria SESI-Mariana. O evento, que se iniciou no dia 6 de setembro, estará aberto de terça a domingo, das 9h às 19h, até o dia 30 deste mês. A entrada é franca.

“Olhar Mediterrâneo” revela partes da essência da região ensolarada que se banha no Mar Mediterrâneo. Marcelo Carvalho registra paisagens de cidades da Grécia: Corfu, Santorini e Mykonos. Cenas de localidades da Croácia: Dubrovnik e Split, além de fotografias de Funchall, Ilha da Madeira, em Portugal. 

Carvalho, que se interessou pela arte de fotografia após realizar um curso promovido por uma companhia fotográfica de Ponte Nova, comemora dez anos de trabalho na área fotográfica expondo trechos de sua visita pela região que nomeia a exposição.

Fotografias caracterizadas pelas cores quentes, vermelho e amarelo, dividem espaço com imagens em que há a presença de jogos de luzes e sombras. Transpiram-se sensações táteis e mesmo sem a predominância de sujeitos agentes nas fotografias os reflexos fotográficos aproximam o clima mediterrâneo ao visitante.

O mar em sua amplidão contrasta com o mirante cinza contemplador. O azul fluido é livre, o mirante está preso às formações rochosas contentando-se em admirar o partir e o chegar das embarcações e aves. Tons de vermelho colorem portas, muros, paredes e arcos. Molduras naturais da paisagem.

Visões panorâmicas das polis permitem o uso de metáfora: revelação de pérolas brancas incrustadas em construções rochosas. São casinhas brancas que refletem a luz solar e tornam o ambiente ainda mais clean, construindo auras.

Ruas sem muito movimento, ladeiras vazias: esta é a liberdade. A praia é logo ali, embarcações de grande porte e pequenos barcos de pesca param por um instante ou dois para confraternizarem-se nas águas translúcidas.

Na terra, outro mar se estende. É o mar de sombrinhas de praia e cadeiras de descanso. O mar da leve brisa que navega para o sonho.

Mas nem tudo é mar azul e céu azul que se refletem, há registros históricos que remetem ao passado. O centro histórico é formado por construções de luz e sombra, o branco e o preto, mas se eleva em torres de sino e relógio e em telhados pontudos que convergem para o ceu. Assim como torres elegantes e altivas, as pilastras ainda mais verticais pelo ângulo de mergulho, que lhes confere grandeza, delimitam espaços.

Casas e prédios com paredes que descascam requisitam o leve toque do olhar. É sombra ou luz quando se sobe escadas de soleiras altas e firmes, em estilo gregoriano.

Rochedos e mirantes são semelhantes às partes antigas das localidades: paredes centenárias, lamparina na porta. O pretérito encontra o presente dos varais de roupa que contrastam com os tijolos das paredes. 

Casas típicas, escadarias e arcos conduzem à sensação de profundidade. É a ascensão para lembrar que há o passado, mas o momento é o agora. Agora formado de castelos e carros modernos, de mirantes e mar, de rochedos e fluidas águas que reverberam e refletem o vermelho e o amarelo das cidades.

“Olhar Mediterrâneo” abre rochosas portas que conduzem direto ao mar. Mar que reverbera história.