Elite da Tropa, e das bilheterias

Postado por: Léo | Marcadores: | às 09:49

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Eduardo Guimarães

Não são os monstrengos azuis, ou os vampiros dos adolescentes, talvez seja algo para o bruxinho da cicatriz na testa, mas este ano o que lotou os cinemas brasileiros foi uma obra nacional, Tropa de Elite 2. O filme já soma mais de R$ 84 milhões de arrecadação e 10 milhões de espectadores, superando o fenômeno “Avatar” como a maior bilheteria do ano no país. Nacionalmente, a produção também já desbancou “Nosso Lar” e “Chico Xavier” juntos. E o filme tem todos os méritos para estes números.

O começo do filme já nos insere em seu final. Isso mesmo, a história mostra o Capitão Nascimento (vivido por Wagner Moura) saindo de um hospital, e narrando alguns acontecimentos daquele dia. Ao mesmo tempo é mostrado homens conversando por radio comunicadores, assim que Nascimento é alvejado por bandidos um flashback interrompe a cena. Agora é exibida uma situação de quatro anos atrás, quando uma rebelião em Bangu 1, liderada por Beirada (Seu Jorge) acaba em uma verdadeira chacina e a morte do líder pelo então braço direito do Capitão, André Matias. Mas a morte do bandido não foi da melhor maneira, Matias desrespeita uma ordem de Nascimento, invade um espaço dominado por Beirada e um ativista dos direitos humanos que estava no local para tentar resolver o conflito é feito de refém pelo bandido. Em um momento de desatenção do traficante, Matias, por conta própria, atira em Beirada. A partir daí ele foi usado como bode expiatório e expulso do BOPE, já Nascimento foi visto como herói pela população, e nomeado para o cargo de Subsecretário de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Quando Matias é assassinado e uma das missões falha, Nascimento toma a situação como algo pessoal e parte contra o crime, custe a quem custar.

Assim, a relação “segurança pública e política” é colocada em xeque por José Padilha e Braulio Mantovani, roteiristas que conseguiram com eficácia mostrar que para a polícia, o inimigo agora é outro. Nesta fase mais madura do Capitão Nascimento, que se torna chefe de segurança do Rio de Janeiro, ele precisa lutar não apenas contra os traficantes do morro carioca, mas são políticos, gente que tem poder e que pode prejudicá-lo. Seu filho também já está com 15 anos, e o Capitão precisa arrumar tempo para ser pai.

A receita para Tropa de Elite 2 é toda nacional, corrupção, violência, pobreza, política, drogas e dinheiro. Todos os itens necessários para que se crie um poder paralelo. O produto final pode ser dividido entre todos os brasileiros, que fazem parte deste sistema. É unânime dizer que após assistir o filme percebemos que foi um tapa na cara da sociedade, entretanto o sentimento de impotência quanto à situação que estamos vivendo é reforçado. Existe aqui uma inversão de papéis, o policial está atrás do bandido, que agora é a lei. E toda uma sociedade é vítima, de mãos atadas, que assiste à tudo sem desconfiar dos acontecimentos.

Os roteiristas, juntamente com o diretor José Padilha, conseguiram colocar o dedo na ferida brasileira, mostrar quem são os verdadeiros inimigos. De onde sai toda a verba que financia as drogas e armas no Brasil. Quem são realmente os poderosos Chefes do Tráfico. Parodiando Renato Russo: “Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá”. O filme funciona como um primeiro passo para a quebra de paradigmas. Direitos Humanos, eleições e narcotráfico, qual a relação?

Sobre o elenco não existe dúvidas que Wagner Moura está mais maduro, assim como o Capitão que agora assume um cargo político de alta influência. Ele está pronto para qualquer papel, já viveu humor e drama na TV, agora prova que é um ator competente em tudo que faz. André Ramiro, que interpreta o Capitão Matias, mostra que o laboratório feito com a SWAT surtiu efeito e culminou com uma atuação fria e perfeita para um “aprendiz de Nascimento” se é que podemos criar este termo. Os demais personagens atuam com o reflexo da competência dos atores principais, que passam segurança para todo o elenco.

Se eu falar mais alguma coisa conto o final do filme, e não seria interessante para o leitor. Mas se é do seu interesse ver o que está por trás dos podres poderes, o que acontece em uma favela, quais as pessoas que sobem o morro e o que é feito com aqueles que vão atrás de toda a sujeira, o filme fica como uma dica e um alerta, que, “o inimigo agora é outro”.

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