ENSAIO: A verdade é desbravadora

Postado por: Léo | Marcadores: | às 09:59

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Maria Aparecida Pinto

A ambiguidade das coisas humanas é contraditoriamente clara. O cidadão dotado do direito de decidir por si próprio se envereda por caminhos de pura entropia e o que descobre? É que sua posição é a daqueles que não se nutrem de rãs, mas engolem sapos. Posição de eterna vigia, mas de esperança de uma liberdade que a qualquer momento pode nos brindar com o ar de sua graça. É este o sorriso amarelo mais esperado.

O que o cidadão não sabe conscientemente é que seu poder de indivíduo convalesce e insiste em atuar, contrariando o conceito “atual” de massa e o conceito vanguardista de povo. Ambas as denominações circundam uma massa amorfa presente em períodos históricos controversos.

A denominada turba sempre respondeu à chamada. Sempre ali se fez presente. Mas o que se exige não é mera assimilação, é prática. Quando o sujeito vive a informação na prática há a cultura. A deglutição é o primeiro passo para a experimentação do mundo. Deixemos como outrora fizeram os antropofágicos do movimento modernista brasileiro, absorvamos o outro e o eu não apenas pelas papilas gustativas, mas pelas dobras do tecido digestivo. Deixemos que a corrente entrópica se constitua fluxo em nossa própria corrente de vida e se “capilarize” em tecidos virgens de experimentação.

Pode parecer uma miscelânea de partes desconexas, sem nexos. Uma confusão peculiar apenas aos mais afoitos. A verdade se encontra entrincheirada justamente nesta característica. A verdade constitui quebra. O destrinchamento do todo é a verdade, por esta razão alcançar a verdade exige um mínimo de rudeza para que se possa pedir polidamente:

- Posso ver-te por dentro?

Talvez não se pressuponha o uso da faca, mas o sujar-se de sangue é necessário. O sangue é o fluxo condutor que possibilita a capilaridade. Então utilizemos a mesma tática do Pequeno Príncipe (a mesma tática de Maquiavel, para os mais incisivos processos).

Nenhum processo é ferrenhamente frankfutiano. E se fosse não seria um processo. À medida que conhecemos a verdade ela se instala em nossas células e requisita reconhecimento de campo, por isso não pode ser nunca acessada de forma pura ou direta.

Embrenha-se em andanças que se fazem pertinentes por terem como objetivo conhecer a verdade de seu hospedeiro. Como o processo de conhecimento da verdade possui um pouco do caráter funcionalista- o todo pela interação de suas partes- somos desbravados. Crenças são colocadas em cheque, sonhos abandonados, amizades desfeitas. Neste processo, consome-se parte da velha entropia. Consomem-se partes de nos mesmos e se retorna a antropofagia. O silêncio é a verdade.

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