Quem dera tudo fosse apenas Jazz...

Postado por: Trombetas | Marcadores: , , | às 21:17

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 José Pedro Bezerra

Nesse ano de 2010, Ouro Preto foi palco da 9ª edição do “Tudo é Jazz”, que aconteceu no Centro de Convenções. Um Festival que conta com músicos de altíssimo nível destinado às pessoas que gostam de ouvir música de excelente qualidade. Mas, as questões que abordarei nas próximas linhas mostram a opinião de um estudante de jornalismo, que não é um sabe tudo (aliás, muito longe disso), mas mostrará os pontos positivos e negativos desse grandioso evento.

O primeiro ponto que ressaltarei é a excelente escolha de músicos, ótimos não só profissionalmente, mas também pelo “show” de carisma dos artistas. Falo pela primeira noite do evento, onde pudemos receber a atenção de Linda OH e Avishai Cohen, dois músicos renomados internacionalmente.
Músicos como Eldar Djangirov, Linda OH e Joshua Redman fizeram o público sentir a música em suas expressões e gestos. Ainda na noite de quinta-feira, passaram pelo palco do Festival os músicos Gilvan de Oliveira e Freddy Cole, porém não foi possível presenciar tais apresentações.

Um dos problemas que não permitiram assistir ao show do renomado cantor e pianista de jazz Freddy Cole foi a necessidade de retornar para Mariana, pois os ônibus correm apenas até a meia noite, mesma hora em que o show de Cole iniciaria. A falta de infra-estrutura por parte da Prefeitura de Ouro Preto em casos simples, como linhas de ônibus para atender às classes menos favorecidas a participarem do Festival, já é um problema. Lembrando que para outro evento grandioso no cenário de Ouro Preto (Festival de Inverno) são criadas linhas especiais.

Mas é aqui que, creio, mora o maior problema. Quem tem grana o suficiente para pagar 230 reais POR DIA para prestigiar o evento deve ter um carro, não é mesmo? E posso estar redondamente enganado, Senhor Prefeito Ângelo Oswaldo, mas não acredito que esse valor, tal como o senhor nos disse, “não é um valor tão alto”. É bom lembrá-lo que o salário mínimo é 510 reais.

O que mais intriga é o prefeito dizer em entrevista que os patrocínios deste ano não ajudaram, por se tratar de um ano eleitoral e blábláblá, e que no ano passado também não ajudaram por estarmos em um ano de crise. Ora, posso mais uma vez estar errado, mas ano passado o evento teve, quase em sua totalidade, entrada franca.

Concordo com o Senhor também que esse evento faz a economia da cidade girar, faz o vendedor da feirinha de pedra sabão e dos plantadores de couve da cidade vender mais para turistas. Mas alguém foi lá perguntar se, além de trabalhar, eles queriam curtir o evento?

Outro problema que me mostrou como é um pouquinho da vida de um jornalista foi a falta de interesse da assessoria de imprensa do Festival em nos tratar como jornalistas. Sim, estamos aprendendo, mas estávamos lá para aprender trabalhando, atuando. Não somos mulas que precisam de “viseira” para não olharmos para outros lados. E nem somos tolos e irresponsáveis a ponto de prejudicarmos os artistas. Fizemos o que queríamos e poderíamos fazer.

Quando fomos nos credenciar para podermos exercer nosso ofício de forma mais livre (mesmo com todos os limites estabelecidos pela produção), por volta das 14h30, a assessoria de imprensa oficial do Festival nem sabia ainda que nós iríamos ser credenciados, sendo que o professor que nos orientou durante todo o processo de pré-cobertura manteve conversas com a realizadora do festival por bastante tempo. Tudo isso pode ser comprovado por e-mail.

Pedimos para sermos autorizados a entrar no show. Nem era necessária a entrada de todos, mas apenas alguns para que pudéssemos cobrir todo o evento. Fomos negados veementemente pela assessora de imprensa e, devido ao alto valor do evento, tivemos que “dar os nossos pulos” para conseguirmos acesso ao Teatro de Ouro Preto, feitos de forma totalmente legal.

E mais, conseguimos, independente de qualquer ajuda, marcar duas entrevistas com dois dos artistas que se apresentaram no dia. Porém, fomos proibidos de realizá-las, pois a PRODUTORA disse que eles estavam cansados. Concordo totalmente. Deveriam mesmo estar exaustos. Mas quem marcou a entrevista foram os próprios artistas, a nosso pedido, é claro. Eles disseram que conversariam sem problemas.

Um dos artistas que iria ser entrevistado reconheceu um aluno, e isso já foi motivo para sermos crucificados. Estávamos indo embora, desolados por não podermos fazer as entrevistas que pensávamos que faríamos e, por coincidência, um dos possíveis entrevistados cumprimentou-nos e começou a conversar com dois de nós. Por esse motivo a produtora, com o perdão da palavra, ensandecida dizendo que nós estávamos fazendo tudo errado, que ela já havia nos dito que não era para fazermos assim, que tudo estava acabado (como se pudesse nos proibir de realizar a cobertura).

Levou o músico embora e ficou “descendo a lenha” em quatro estudantes que erraram por estar na saída do teatro, indo embora. Indignada por não saber como havíamos entrado, nos disse que se quiséssemos entrar no evento era só pedir para eles que arrumariam uma forma de entrarmos. Porém mais cedo a história foi outra, tal como vocês devem se lembrar.

Mas ainda existiram alguns eventos que foram abertos ao público. A programação do Jazz paralelo mostrou que não era preciso gastar uma boa grana para presenciar uma ótima música. A programação do site oficial mostrava onde isso aconteceria. Você teria que procurar com um pouquinho de paciência, pois, obviamente está em segundo (para não dizer terceiro, quarto, quinto) plano. Mas, se você tivesse 230 reais para gastar por noite, sem dúvida seria uma excelente pedida.

Comments (1)

Primeira vez q leio uma crítica (digo oficialmente) de José Pedro Bezerra. Gostei! O bom da internet é o fato de se expressar sem pudorzinho (ne).

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