“O Velho e o Mar: humildade e persistência na batalha entre peixe e pescador”

Postado por: Trombetas | Marcadores: , | às 21:13

0

Olívia Mussato

Cuba. O Mar do Caribe. Um velho pescador azarento, mas persistente. Um garoto amável e também persistente. A humildade e a simplicidade da vida se casando em pleno alto mar. Estes são os elementos principais do romance com narrativa jornalística do escritor americano, Ernest Hemingway.

Terra Firme
Santiago era um pescador velho e magro. Seus braços e rosto tinham manchas escuras produzidas pelos raios de sol e suas mãos eram marcadas de cicatrizes deixadas pelas linhas de pesca que já lhe haviam trazido peixes enormes. Seu corpo era velho e marcado, mas seus olhos não. Seus olhos azuis, da cor do mar, transmitiam a vivacidade e alegria que existiam em sua alma.

A simples cabana em que vivia era construída de guano, uma madeira resistente das palmeiras reais. A mobília era formada apenas por uma cama e uma mesa, e um dos cantos da cabana era reservado para se cozinhar a carvão. Nas paredes havia imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem de Cobre, consideradas relíquias da mulher já falecida. Havia também uma fotografia da esposa, mas Santiago a havia retirado, pois se sentia muito só ao observá-la.

O pescador tinha o hábito de ler jornais, nem sempre novos, e sua atenção se voltava para as notícias de beisebol. Santiago acompanhava a Liga Americana de perto e era fã dos Yakees, apostando no grande jogador DiMaggio.

O velho era solitário. Manolin era seu único companheiro. Porém, os oitenta e quatro dias sem pescar além de lhe renderem o título de salao - em espanhol, azarento da pior espécie, ainda serviram para que os pais de Manolin, o garoto que lhe acompanhava em sua pesca diária, afastassem-no do velho pescador.

Manolin era uma boa companhia para Santiago. Era amável, atencioso e cuidava do velho, levando comida e ajudando-o a carregar os rolos de linha, o gancho, o arpão e a vela do mastro quando o pescador regressava de mais uma pesca sem sucesso. A vida humilde e pobre de Santiago despertava caridade e ternura no garoto, e os dois mantinham uma relação de afeto e paternalismo. Mesmo com a maré de azar que assolava Santiago, o garoto não o abandonara e considerava Santiago o melhor pescador, forte o bastante para encarar qualquer peixe.

Em alto mar
Santiago afirmava que o mar era belo e generoso e, em setembro, no mês dos grandes peixes, decidiu enfrentá-lo, confiando que voltaria com um bom peixe para a Esplanada.

Como de costume, o menino também ajudou Santiago a se preparar para “o grande dia”: ainda de madrugada, levou o velho para tomar café e trouxe as iscas e as sardinhas que estavam no armazém frigorífico para a pescaria. Despediram-se e o velho pescador partiu para o mar em busca do grande peixe da sua vida.

Santiago decidiu ir mais longe do que de costume e se afastou da costa, remando suavemente na escuridão. Quando amanheceu, percebeu que estava mais longe do que esperava, mas estava preparado com seus rolos de linha, iscas, varas de pesca, garrafa de água, com sua esperança e a vontade de vencer a si próprio.

Começava aí o embate entre O Velho e o Mar.

O pescador é surpreendido por um peixe que fisga a isca, sentindo-se feliz por saber que ainda tem sorte e pode vencer. Mas com o passar do tempo, Santiago percebe que a presa é grande e pesada, e que pescá-la seria um desafio. Este desafio lhe custaria a vida e desistir era sinônimo de morte.

Assim, a batalha entre o velho e o peixe instiga o leitor na medida em que é travada. O cansaço, a fome, a sede, os ferimentos nas mãos e nas costas causados pelas linhas de pesca e as dores no corpo de Santiago são narrados de forma sinestésica e a imagem do pescador exausto, lutando contra sua própria força de desistir aparece clara ao leitor.

A solidão em alto mar faz com que o pescador reflita sobre sua própria existência, concluindo que não basta que tudo seja feito de maneira correta, é preciso, além de tudo, ter sorte. Santiago surpreende-se ao conversar sozinho, ao sentir saudade de seu companheiro Manolin e, como sempre, se recorda dos jogos de beisebol e da Liga Americana.

Santiago consegue fisgar o peixe medindo cerca de cinco metros, mas não consegue trazê-lo até a costa, pois, no percurso, os tubarões arrancam toda a carne do animal pescado. O velho pescador traz para a Esplanada somente a carcaça do peixe, sem carne alguma e chega derrotado, considerando que, além de devorarem a vitória de um pescador, os tubarões também mataram o próprio homem.

Além do Mar
A História de Santiago rendeu ao autor o Prêmio Pulitzer e o Nobel de Literatura, em 1954. O livro é envolvente, instigante e permite a reflexão sobre os sonhos e desilusões do ser humano.

As frases curtas seguem o ritmo das ondas do mar que se quebram no pequeno barco de Santiago e representam a força da união entre jornalismo e literatura de um dos escritores que serviu de influência para o new jornalism.

A narrativa tem cheiro de peixe fresco e maresia, e Ernest Hemingway nos faz enxergar os peixes e o mar.

Jornalista desde os 18 anos, o autor produz uma narrativa clara e concisa, abusando do estilo jornalístico. O resultado é um texto descritivo, curto (apenas 126 páginas), direto e que segue uma linha cronológica. Mesmo que recheado de pensamentos e inferências ao passado de Santiago, em nenhum momento a noção do tempo atual da história é perdida. Tal característica possui aspectos positivos e negativos.

De um lado, o leitor fica preso aos fatos que são desenrolados durante a narrativa: se atém a cada remada, a cada onda que bate no barco de Santiago, a cada puxão que o peixe dá na linha de pesca.
Mas de outro lado, o leitor também fica preso. Fica preso ao presente da vida de Santiago e não consegue se desvencilhar do barco, do mar, da luta do pescador contra o peixe.

Por algumas das lembranças que o velho Santiago apresenta - como as aventuras da viagem à África e suas recordações dos leões, das extensas praias douradas e das areias brancas -, nota-se que é possível explorar mais o passado do personagem central do livro. O que Santiago viveu em sua infância, juventude e na vida adulta foi determinante na construção da personalidade que é mostrada ao leitor. O acréscimo destes aspectos na narrativa traria mais emoção e aproximaria, ainda mais, o leitor da saga do humilde pescador cubano.

Livro: O Velho e o Mar
Autor: Ernest Hemingway
Ano de publicação: 1952
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 126
Valor: R$20,80

Comments (0)

Postar um comentário